«As minhas Marguerites: Yourcenar e Duras», por Maria Helena Trindade Lopes (Universidade Nova de Lisboa), 29 de Setembro de 2020
O que leva uma egiptóloga a falar sobre Marguerite Yourcenar e Marguerite Duras? O Egipto Antigo e o pensamento e as referências míticas. Yourcenar e Duras, do isolamento ao excesso, duas perspectivas distintas de construir uma existência, alicerçadas numa caução comum: a palavra.
Helena Trindade Lopes: É Professora Catedrática e Coordenadora Executiva do Departamento de História da FCSH. É investigadora integrada do CHAM onde coordena o Grupo “ A Antiguidade e a sua Recepção”. As suas actividades primordiais de investigação desenvolvem-se no domínio da Egiptologia, Arqueologia egípcia - dirigiu o 1º e único Projecto Arqueológico Português no Egipto – Mundo Mediterrânico e a Recepção da Antiguidade. É autora de mais de cem títulos – entre livros, capítulos de livros e artigos – nas suas áreas de pesquisa.
«O coração e a razão: Esther Gad-Bernard-Domeier e os salões literários de Berlim na transição do século XVIII para o século XIX», por Fernando Clara (Universidade Nova de Lisboa), 21 de Outubro de 2020
Escritora de ascendência judaica, Esther Gad/Bernard / Lucie Domeier (1767-1833), foi uma figura conhecida dos influentes salões literários de Rahel Varnhagen e Henriette Herz na capital alemã. Enquanto autora nunca fugiu às polémicas, nomeadamente sobre a educação da mulher e o seu papel na sociedade, e deixou diversas publicações sobre as suas viagens, entre as quais se contam as Cartas a um amigo durante a minha estadia em Inglaterra e Portugal, 2 vols. Hamburgo: August Campe 1802 (2ª ed. 1808).
«Enheduanna, a primeira escritora da história? Acção literária e política de uma poeta/princesa mesopotâmica», por Isabel Gomes de Almeida (Universidade Nova de Lisboa), 24 de Novembro de 2020
A precoce invenção da escrita na Mesopotâmia, em cerca de 3200 a.C., originou uma profícua produção literária, desde muito cedo, neste espaço civilizacional. Ao longo dos séculos, múltiplas gerações de escribas cristalizaram, em signos cuneiformes, o imaginário mítico-religioso transmitido oralmente, no seio das suas comunidades. Tal, levou à produção de um corpus literário extraordinário e riquíssimo, que não só expressou as idiossincrasias culturais da terra Entre-os-Rios, como marcou de forma indelével as mentalidades de outros mundos da Antiguidade. Habitualmente, alia-se a função de escriba aos agentes históricos masculinos, dado que as funções tradicionais das mulheres desta civilização estavam, em regra, circunscritas ao espaço doméstico. Contudo, ao longo dos mais de três mil anos que perfazem a história da antiga Mesopotâmia, são muitos os exemplos de mulheres que sabiam escrever e que produziam obra literária. Um desses casos, o mais antigo identificado até à data, é o da princesa Enheduanna, filha do primeiro unificador político deste território, Sargão de Akkad (c. 2300 a.C.). Enquanto membro da família real, Enheduanna foi conduzida ao ofício de suma-sacerdotisa do templo da divindade lunar, na cidade de Ur. No âmbito deste cargo, produziu múltiplos hinos dedicados a vários deuses, que a levaram a ser reconhecida como poeta pelos próprios mesopotâmios, nos séculos seguintes. Partindo da análise destes hinos, pretendo avaliar a agência literária de Enheduanna, mas também a sua acção política, que contribuiu activamente para a afirmação da dinastia acádica.
Isabel Gomes de Almeida: É doutorada em História, área de especialidade História Antiga pela Universidade NOVA de Lisboa. Como professora auxiliar do departamento de História da NOVA FCSH, lecciona unidades curriculares de 1.º ciclo e seminários de 2.º ciclo relacionados com civilizações da Ásia antiga. É investigadora integrada do CHAM – Centro de Humanidades (FCSH-UNL & UAc), integrando a sua direcção executiva, desde 2016. Nesta unidade de investigação, assume ainda funções de editora da revista Res Antiquititas- Journal of Ancient History (ISSN 1647-5852). Na sua tese de doutoramento, A construção da figura de Inanna/Ištar na Mesopotâmia (IV-II milénios a.C.), analisou as representações do divino feminino na civilização de Entre-os-Rios, no âmbito da História das Religiões, campo onde se concentram os seus interesses de investigação.
Conferência realizada online devido à pandemia de covid-19.
«Os Anjos, de Teolinda Gersão», por Ana Paiva Morais (Universidade Nova de Lisboa), 28 de Janeiro de 2021
Sessão sobre a narrativa de Teolinda Gersão, Os Anjos (2000) com o objetivo de observar, através da lupa que este proporciona, um tópico recorrente nos estudos sobre a escrita de mulheres – o silêncio. A leitura proposta centra-se na relação entre o discurso feminino e o silêncio nas diversas modalidades que este aqui apresenta: os segredos, os sonhos e as fantasias, as memórias, as imagens e o tempo perdido.
Ana Paiva Morais: É docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa onde leciona Literatura Medieval e Contemporânea Francesa e Portuguesa e Teoria Feminista. O seu trabalho de investigação tem incidido principalmente sobre as narrativas breves medievais, em especial nas literaturas francesa e portuguesa. Interessa-se, também, pela recepção dos textos medievais na literatura moderna e contemporânea e pelas relações entre a literatura medieval e a literatura tradicional. Tem trabalhos publicados sobre os “fabliaux”, os exempla, o conto e a fábula da Idade Media. Coordenou o projecto coletivo “A Fábula na literatura portuguesa: catálogo e história crítica”.
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«Por entre silêncios e sombras: vozes femininas da Idade Média», por Carlos Carreto (Universidade Nova de Lisboa), 25 de Fevereiro de 2021
Num contexto cultural em que as vozes masculinas dominam amplamente o universo literário, o acesso à palavra escrita configurando o próprio espaço do poder, as vozes femininas (frequentemente filtradas ou trasladadas através do discurso masculino) ecoam como vozes discretas, fugidias, oblíquas, muitas vezes anónimas e diluídas, inapreensíveis. As que conseguiram rasgar o silêncio e a sombra, fizeram-no, no entanto, com extraordinária limpidez e profundidade, tanto no registo místico e trovadoresco, como no biográfico, amoroso ou de cariz moral e pedagógico. Proponho aqui dar a ouvir algumas dessas vozes longínquas e inaudíveis, procurando traços e características distintivos de um imaginário feminino da escrita na Idade Média.
Carlos Carreto: Docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa onde leciona unidades curriculares dos domínios de estudos literários e de cultura francesa e onde desempenha atualmente as funções de coordenador executivo do Departamento de Línguas, Culturas e Literaturas Modernas e de subcoordenador científico do IELT. Os seus principais campos de lecionação e de investigação incidem sobre as áreas de Literatura Francesa, Teoria da Literatura, Estudos sobre o Imaginário e Estudos Medievais. Para além de investigador integrado do IELT, é também membro colaborador do Instituto de Estudos Medievais (NOVA FCSH), do GRIS-France e investigador associado do LITT&ARTS (Université Grenoble Alpes). Membro fundador e membro permanente da comissão de redação da revista interdisciplinar luso-francesa Sigila e codirector dos Cadernos do CEIL. Revista Multidisciplinar de Estudos sobre o Imaginário, as suas publicações têm incidido sobre as relações dinâmicas entre Tradição, Mito e Literatura, questionando a forma como o imaginário cultural e ideológico dos séculos XII e XIII moldou as conceções, representações e práticas da narrativa desenvolvidas durante esse período.
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«Representação das mulheres numa colectânea de contos luso-americanos de Katherine Vaz», por Isabel Oliveira Martins (Universidade Nova de Lisboa), 25 de Março 2021
No final do século 20, vários escritores americanos de ascendência portuguesa conquistaram um lugar de alguma relevância nas letras americanas. Katherine Vaz, uma luso-americana de segunda geração, é uma das mais reconhecidas vozes. A sua segunda coletânea de contos, Our Lady of the Artichokes and Other Portuguese-American Stories (2008), entrelaça vários lugares e trajetórias geográficas dentro e fora dos Estados Unidos. Ao fazê-lo, Vaz recupera elementos da cultura portuguesa, incluindo tópicos relacionados com o papel da mulher dentro ou fora das comunidades luso-americanas e como lidaram com a sua situação de imigrantes “forçadas”. O homem teve um papel de destaque nas comunidades luso-americanas, visto que foram eles que, na maioria das vezes, tomaram a iniciativa de emigrar, os que providenciaram as necessidades materiais básicas, e que posteriormente chamariam as mulheres. De um modo geral, estas eram as suas prometidas, noivas ou mulheres que estavam destinadas a ser as mães dos seus filhos e, portanto, seriam confinadas ao ambiente doméstico onde o seu papel poderia ser central, mas também limitado não apenas pela cultura dominante, mas pelos seus próprios compatriotas e as suas crenças enraizadas. Pretendo apresentar a representação que Vaz faz das experiências das mulheres nas suas narrativas e verificar se o retrato construído por Vaz aponta para um enquadramento diferente do papel da mulher na sociedade.
Isabel Oliveira Martins: É docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Lecciona, desde 1983, nas áreas de Literatura Norte-Americana e Tradução Literária. Investigadora do Centro de Estudos Ingleses, de Tradução e Anglo-Portugueses (CETAPS) e do CEAUL (Centro de Estudos Ingleses da Universidade de Lisboa), a sua investigação abrange as áreas dos Estudos Americanos e Luso-Americanos, Estudos Anglo-Portugueses, nomeadamente Literatura de Viagens e Tradução Literária, sendo membro do PEnPAL in Trans, projecto colaborativo interinstitucional de tradução literária aplicada em plataforma digital, tendo como objecto escritores luso-americanos.
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«Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa», por Rita Mira (Universidade Nova de Lisboa), 29 de Abril de 2021
Novas Cartas Portuguesas, obra literária de 1972, escrita por Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, é um livro singular, tanto pelo seu caracter revolucionário e desafiador da ditadura fascista em Portugal, como pela sua narrativa inovadora, cruzando, a seis mãos, a poesia, o ensaio, o romance, a carta, o conto. Símbolo do feminismo português do Seculo XX, Novas Cartas Portuguesas é um livro que tem como centro a indignação face à subordinação das mulheres e à sua invisibilidade – pessoal, social, cultural e política -, procurando dar voz aos seus desejos, às suas inquietações e pensamentos, constituindo um grito de libertação contra todas as formas de opressão e um verdadeiro manifesto reivindicativo dos seus Direitos Humanos.
Rita Mira: É investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais/Faces de Eva da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutoranda em Sociologia, desenvolvendo investigação na área da construção social da intimidade. Mestre em Estudos sobre as Mulheres pela mesma Universidade, com a dissertação “O Arquétipo da Princesa na Construção Social da Feminilidade”. Colaboradora, desde há 11 anos, numa ONG com intervenção na área dos Direitos Humanos das Mulheres e das Crianças. Faz parte da equipa de redacção da Revista Faces de Eva.
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«Bernarda Ferreira de Lacerda, uma mulher escritora do século XVII», por Ana Isabel Buescu (Universidade Nova de Lisboa), 27 de Maio de 2021
Bernarda Ferreira de Lacerda (Porto, 1595- Lisboa, 1644) viveu numa época marcada pelo espírito da Contra-Reforma e, sob o ponto de vista político, em plena monarquia dual. Figura hoje pouco conhecida das letras portuguesas, a sua sólida erudição, a sua condição de poliglota e os livros de que foi autora, com destaque para o poema épico escrito em castelhano, a Hespaña Libertada (1618), aventurando-se num género literário “masculino”, deram-lhe notoriedade na época nos meios cultos, quer em Portugal quer em Espanha. Chegou a ser convidada por Filipe III para mestra dos seus filhos, cargo que recusaria. A nossa reflexão tem, pois, como protagonista esta mulher, na sua inserção social, sociabilidades literárias e produção escrita.
Ana Isabel Buescu: É doutora em História pela FCSH/UNL, onde lecciona. Investigadora Integrada do CHAM-Centro de Humanidades/UNL. Livros publicados (desde 2007): D. Beatriz de Portugal (1504-1538). A Infanta esquecida, 2019; A livraria renascentista de D. Teodósio I, duque de Bragança, 2016; Na Corte dos Reis de Portugal. Saberes, Ritos e Memórias. Estudos sobre o século XVI, 2ª ed. 2011; D. João III (1502-1557), 2ª ed. 2008; Catarina de Áustria (1507-1578) Infanta de Tordesilhas, Rainha de Portugal, 2007; em colaboração: A Mesa dos Reis de Portugal. Ofícios, Consumos, Práticas e Representações (séculos XIII-XVIII), coord. Ana Isabel Buescu e David Felismino, 2011.